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O BlackBerry oferece tudo aquilo que o filme da Apple Tetris faltou: um drama humano atrelado à realidade histórica, sem a necessidade de adicionar perseguições de carro ou histórias fantasiosas. À primeira vista, a ascensão e queda do smartphone equipado com teclado da Research in Motion (RIM) pode não parecer extremamente interessante. Mas nos encontramos diante da genialidade desta obra – dirigida por Matt Johnson, que também assina o roteiro ao lado de Matthew Miller – que torna a jornada do BlackBerry em um desfecho trágico.

A história tem como protagonistas dois indivíduos muito distintos: os co-CEOs da RIM, Mike Lazaridis, um gênio enrugado da pesquisa e desenvolvimento, e Jim Balsillie, um empresário duro e de caráter sempre irritado. Apesar das dificuldades individuais, juntos foram capazes de governar a indústria de celulares por mais de uma década. Até que o iPhone chegou, e rapidamente reverteu as fortunas dos dois.

Assim como muitos antigos titãs, a RIM foi vítima do Dilema do Inovador, aquilo que segundo o professor Clayton Christensen, da Universidade de Harvard, acontece quando empresas grandes e de grande sucesso ficam inteiramente focadas na criação de iterações de seus produtos e na satisfação dos clientes. Dessa forma, abrem espaço para que novos agentes, mais ágeis consigam desenvolver algo revolucionário que os incumbentes nunca imaginaram.

No caso, é o iPhone da Apple, que chegou como se fosse uma bomba nuclear no mundo da tecnologia. O filme mostra Lazaridis e sua equipe de desenvolvimento assistindo à famosa apresentação de formulação do iPhone feito por Steve Jobs em uma completa incredulidade. Lazaridis é o gênio que teve a ideia de inventar um computador portátil, equipado com teclado, eficiente o suficiente para operar em sinais sem fio que seriam de uso não profissional. Mesmo depois que o BlackBerry decolou, vemos ainda mais uma inspiração de Lazaridis com o Aplicativo do BlackBerry (BBM), um serviço que oferecia mensagens gratuitas para os clientes da RIM, numa época em que as operadoras cobravam 10 centavos por SMS. Uma manobra brilhante que tornou a base de usuários BlackBerry ainda mais leal, uma vez que o serviço não era acessível em outro dispositivo.

Mesmo que já não fosse estranho à inovação, Lazaridis não acreditava que o iPhone funcionaria. Ele seria caro demais. Não teria teclado. E seria construído para consumir dados móveis (algo que a RIM fazia questão de evitar). Quem compraria isso? Resulta que todos nós fomos. Ainda que o iPhone tenha sido caro em seu lançamento, as subvenções das operadoras o tornaram mais acessível. Sua tela grande, eventual (mas, finalmente vasta) loja de aplicativos e sistema operacional revolucionário superaram a falta de um teclado. E quando chegou, as redes 3G estavam se espalhando, o que deu às operadoras mais incentivo para cobrar os clientes pela navegação de dados ao invés dos minutos de celular. Assim como o BlackBerry nos deu uma visão de um mundo sempre conectado em 1999, o iPhone prometeu a total potência da internet no seu bolso.

Consideradas spoilers da vida real, estatísticas mostram que o BlackBerry caiu de 20% da fatia de mercado global para zero em 2017, segundo o site Statista. Para aqueles que não estiveram presentes durante o auge da empresa, o filme funciona como uma boa lição de história.

Source: https://www.engadget.com/blackberry-movie-review-comedy-tragedy-innovators-dilemma-140115574.html

By 152news

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